O Mito do “Fair Share”: Quem Deve Pagar Pela Internet Que Usamos?

Por Renato Ornelas

Você já parou para pensar em quem realmente paga pela internet que usamos todos os dias? Esse debate esquentou nos últimos anos, principalmente com a ideia do chamado “Fair Share”, que surgiu na Europa. O conceito, de forma simplificada, é o seguinte: as grandes operadoras de telecomunicações, que investem pesado em infraestrutura, querem que as gigantes de conteúdo, como Netflix, Google, Amazon, Apple, também entrem na conta, pagando para usar as redes que entregam os seus conteúdos aos usuários finais.

À primeira vista, parece até fazer sentido. As operadoras alegam que gastam bilhões para expandir backbones e manter a rede funcionando, enquanto as big techs despejam cada vez mais tráfego de vídeos, streaming, música e jogos, impulsionando a necessidade de investimentos cada vez maiores. Mas será que esse argumento realmente se sustenta?

Quem já paga pela rede?

A equação, na prática, é bem mais simples. Quando você assina um plano de internet, está pagando para receber um serviço: seja um link de 300 Mb, 500 Mb, 1 Gb, pouco importa. Você, como usuário, é quem financia toda a cadeia, e a operadora já recebe pelo acesso que está entregando. Se a sua conexão permite assistir vídeos em 4K, jogar online ou fazer live no YouTube, a rede deveria estar pronta para suportar esse uso, independentemente do serviço.

Enquanto isso, empresas como Netflix e Google também investem pesado, não só em infraestrutura global (com servidores de cache espalhados pelo mundo), mas também em produção e distribuição de conteúdo. Cada um cuida do seu negócio e busca eficiência e retorno sobre o que oferece. A Netflix depende de novos assinantes, o Google, da publicidade vinculada ao YouTube e assim por diante.

O papel dos provedores e a realidade brasileira

Aqui no Brasil, os provedores regionais conseguiram crescer sem subsídios ou incentivos públicos, e normalmente com muito menos endividamento do que as grandes operadoras. Isso só foi possível por conta de uma gestão eficiente, investimentos sustentáveis e, principalmente, boas parcerias com fornecedores de conteúdo. É uma vitória para o setor quando um provedor recebe um servidor de cache de grandes plataformas, como Netflix ou Facebook, dentro da sua rede: isso reduz custos, melhora a experiência do usuário e cria um ambiente de cooperação.

Por outro lado, as grandes operadoras, com histórico de dívidas elevadas, querem repassar parte dos seus custos para terceiros. E aqui entra uma contradição: são elas mesmas que promovem, nos planos móveis, o uso “gratuito” de certos aplicativos, como WhatsApp e Netflix, sem descontar da franquia de dados. Depois, alegam que o tráfego gerado por essas big techs está onerando a rede. Faz sentido?

Quem pagaria a conta no final?

Se a ideia do Fair Share avançasse no Brasil, o efeito direto seria o aumento dos custos dos serviços digitais e, consequentemente, para o próprio usuário final. Afinal, dificilmente empresas como a Netflix ou o Google absorveriam esse custo adicional sem repassá-lo para o assinante. E ainda existe o risco de degradação na qualidade dos serviços, caso as operadoras resolvam limitar ou priorizar o tráfego de certas plataformas, prejudicando a experiência do usuário.

O grande problema, portanto, não é “quem paga pela internet”, mas como garantir um ambiente saudável para inovação, concorrência e acesso universal. Cobrar as big techs pode até parecer uma solução fácil, mas tende a gerar efeitos colaterais negativos para todo o ecossistema, principalmente para quem realmente importa: o usuário final.

E você, o que pensa sobre isso? Você acha que as big techs deveriam pagar para usar as redes das operadoras? Ou acredita que, no fundo, elas são parceiras dos provedores e ajudam a impulsionar a internet no Brasil? Compartilhe sua opinião, esse é um tema que ainda vai render muito debate.

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